A primeira vez que eu morri foi a mais sofrida.
Eu estava assustado, com medo, pensava que a primeira morte seria a ultima. Nada pior do que achar que existe o ultimo. Por mim, tiraria esse tipo de palavra do vocabulário.
Além disso, eu ainda não me julgava pronto para morrer. Afinal, eu não tinha ficado rico, eu ainda não tinha comido a Juliana Paes (nem nenhuma equivalente), eu ainda estava gordo, eu ainda não tinha tido filhos pois só podia ter filhos após ficar rico, eu ainda não tinha feito meu livro pois só podia fazer meu livro após ficar rico, eu ainda nem plantara uma árvore e não plantaria uma árvore nem após ficar rico.
Portanto, quando saquei que ia realmente morrer eu optei por resistir. Sou brasileiro e não desisto nunca. Rebelde e obsessivo eu iria lutar até o fim. O fim! Sempre ele, me apavorando, me obssedando.
E uma coisa eu posso dizer: o obsessivo é, antes de tudo, um forte.
E quem é forte sofre.
Lutei e lutei cada vez mais sozinho. Minha mãe vinha me consolar falando de vida após a morte. Eu gritei muito com ela, a espantei, a expulsei. Não quero consolo. A morte é injusta. Ainda mais para alguém que ainda nem ficou rico. Não sou homem de trocar o certo pelo duvidoso. Vou lutar para viver aqui em vida. E bla, bla, bla...
Minha mãe tadinha. Ficou muito triste de me ver tão bravo.
Foi muito doído, sofri muito. Só consegui morrer quando pifou meu cerebro, entrei num transe maluco de pesadelo, enlouqueci, não sabia mais o que era sonho o que era real, nem pensava mais nesses termos, e aí consegui passar. Ufa! Mas não tinha ainda passado. Foi uma morte longa, cansativa, obsssessiva, demorada.
A segunda vez que nasci voltei mais pragmático. Não perdi tempo com estudos, diversões ou bobagens em geral. Já voltei no meu foco: enriquecer e comer a Juliana paes da época. Não perdi um segundo. Com trinta anos já estava rico e já tinha comido umas 15 juliana paes da época. Fui um sucesso. Depois não sabia mais o que fazer, continuei enriquecendo, comi mais centenas de Julianas paes da epóca, viciei em cocaína, morri de acidente de carro. Doidaço de ansiedade joguei o carro no poste. Nada me satisfazia. Por mais rico que eu ficasse sempre tinha alguma mulher que não queria dar para mim e algum dinheiro que era dos outros. Morri em protesto contra a vida.
A terceira vez que vivi já nasci meio tristinho. Não tinha mais vontade de ficar rico e percebi que não tinha como superar a morte. Virei filosofo sem livro publicado. Só pensava na morte e na inutilidade da vida. Passei a vida toda pensando que a vida não tinha sentido. E nem senti a vida passar. Não resisti para morrer, nem morri em protesto. Apenas me deixei morrer. Mas, na hora da morte, quando pensei que nada tinha sentido, eu curti a vida. Estava com febre alta, me deram uns remedios loucos e relaxei. Peguei um transe legal e curti minha passagem. Pela primeira vez eu sai de mim e tive um daqueles flash backs rememorativos. Tinha passado a vida ensimesmado em mim mesmo, mas na hora da morte revi vários momentos, percebi o sorriso de minha mae me olhando no berço, um momento poético de mau humor de meu pai (um fofo aquele coroa), uma professora da universidade meio gordinha me paquerando que nem reparei pois estava pensava na inutilidade da vida..Sei lá, mas de repente eu vi um monte de coisinha bonita que eu não tinha visto. Foi um presente. E não fiquei triste por não ter aproveitado. Apenas me senti um mané. Percebi bons momentos que tive e morri feliz de ver que a vida, no fundo, no fundo, podia ser gostosinha. Pela primeira vez desencarnei com leveza.
Foi uma morte ótima, cheia de esperança, sem o bruximo que me incomodou tanto em outras mortes, dormindo o sono dos justos, sonhando em voltar logo para a vida, para curtir todos os momentos, quem sabe plantar uma arvore, quem sabe publicar um livro, quem sabe gastar uma boa grana num ótimo jantar, quem sabe comer a Juliana paes da época com mais carinho e atenção e, quem sabe até, comer e casar com a professorinha gordinha de filosofia que me paquerar na próxima vida. Foi uma morte super gostosa.
E finalmente eu nasci feliz. Já cheguei curtindo a vida. Saquei que o negocio mesmo é agradecer o tempo todo. Se agradecer em todos momentos da vida, vai morrer tranquilo, mega agradecido, até já cansado de tanto agradecer. E percebi que para quem esta vivo o que vier já é lucro.
sábado, 29 de janeiro de 2011
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