domingo, 19 de julho de 2009

existencialismo ludico

EXISTENCIALISMO LUDICO

Nunca fui pessimista
Mas sempre gostei do Esperando Godot, do Beckett.
Sempre achei estranho, sempre me falavam do existencialismo , da transitoriedade, do absurdo da vida e tal... Sempre que ouço esse papo me dá um pouco de sono. Me lembra papinho cabeça de intelectualzinho brasileiro que ainda está preso na colonização cultura francesa. Soninho. Mas eu gostava do Godot.

Relendo hoje eu entendi porque: eu gosto pois os personagens são palhaços.Todo o diálogo lembra o burlesco e há cenas inteiras de humor físico na tradição pastelão.

Resumindo: existencialismo é ótimo!
Desde que se entenda que a vida é uma comédia e que nós somos os palhaços!
Se misturar existencialismo com melodrama aí a vida vira aquela chatice de depressão francesa.
Se misturar com tragédia vira os livros do Camus, que foram legais na adolescência, mas não se aplicam a vida adulta.

Lendo o Godot me lembrei do fantástico prefácio do livro “Pastelão, ou Solitário Nunca mais”. Nesse prefácio, Kurt Vonegut (o maior existencialista palhaço de todos os tempos) analisa como O Gordo e o Magro são a melhor lição que um ser humano pode ter para a vida.


Pois o existencialismo tem que ser cômico.

Resumindo:
Não é que a vida não tem SENTIDO.
É a gente que só sabe o sentido dela depois de viver!

Na vida a gente não é autor, nem roteirista, nem diretor.
É só personagem. Todos os personagens nossos são – do ponto de vista do narrador - grandes palhaços. Nada mais engraçado do que um personagem melodramático reclamando da vida. Ou do que um personagem dominado pelo cérebro.
Há momentos de dramas reais, como todo bom filme do Chaplin.
Mas a essência é de palhaço!
Quem sabe disso pode, quando muito, se tornar um escada de palhaços. Quando muito. E recomendo que deixe vir seus momentos de palhaçada completa.
Pois precisa.

Quando aceitamos que somos apenas palhaços acalmamos e podemos curtir
Tudo que nos resta é fazer direitinho nosso papel
Como diria Vonegut, num trecho do citado prefácio:
“A base do humor do Gordo e o Magro, creio eu, era que eles se esforçavam ao máximo em cada prova que tinham pela frente.
Nunca deixavam de enfrentar de boa fé o seu destino, e eram fantasticamente adoráveis e engraçados na tentativa”.
Gordo e Magro são o existencialismo popular. O existencialismo sem firula francesa, o existencialimo poético da vida real.
O existencialismo foi importante para trazer aos orgulhosos intelectuais de um país colonizador falido a consciência de que sua vida é transitória. Que mesmo com toda sua produção artística, toda sua cultura, eles são apenas mais uma peça no tabuleiro do grande espetáculo da vida.
Sarte e os existencialistas foram fundamentais para despertar essa consciência entre intelectuais e o fez no tom serio-dramático da filosofia tradicional. Mas basicamente, o que o existencialismo fez foi traduzir o Gordo e Magro para a grande filosofia.

Essa humildade que vem da consciência da transitoriedade as classes populares sempre tiveram. E se o tom sério dramático do existencialismo acabava levando ao suicídio, o tom leve da comédia acaba levando a uma vida ainda mais plena.

A comédia popular sempre mostrou que o que importa é participar da vida com presença, contribuir para essa improvisação aparentemente amalucada com a confiança de que a equipe é boa e o roteirista talentoso. Que no final, vai ficar tudo claro e tudo vai fazer sentido.
E ter como principio básico: contracenar com nossos colegas de palco!
Tal como um bom palhaço!

Pois o que importa é que a peça fique boa!

Por tudo isso chegou a hora de superarmos o existencialismo serio dramático e alcançarmos o existencialismo lúdico.

Um existencialismo baseado em presença, participação, confiança em deus (o autor) e alegria!

Um existencialismo palhaço.

Por isso, meu blog é, antes de tudo, um blog de palhaço!

Cosmogomia

Cosmogomia

No inicio Ele era uno. E como ainda não tinha criado nada, ele era uno e único.
Sem nada para fazer e sentindo-se sozinho naquela unidade toda, Ele conclui: algo não vai bem. Ele viu dois problemas. Um é que ele era muito complexo. Sentia que sua personalidade tinha muitas e muitas facetas, era difícil entender a si mesmo. Ele queria saber: afinal, quem sou eu?
Além disso, tinha outra coisa. Ele se sentia sozinho. Não tem sentido eu ficar aqui sozinho, sem ninguém para conversar, apenas eu, na minha unidade toda! E então ele gritou, inventando o verbo: Eu quero casa cheia. E quero novidade permanente!
Foi assim que ele inventou o verbo. Assim, meio de supetão, apenas para verbalizar sua crise.
Mas isso não resolveu o problema. Esse era, para Ele, um baita problemão, de difícil resolução.
Foi então que ELE começou a meditar. E mesmo sem ainda ter tido a idéia de separar o tempo do espaço, ele passou milênios, bilenios, de um calendário ainda inexistente, apenas ali, meditando. Seus pensamentos iam e vinham sem controle e ele nunca chegava a resposta de sua conclusão: afinal, quem sou eu?
A meditação foi tão longe que ele chegou no transe. No inicio foi difícil, Ele tinha muita coisa a resolver, pendências de vidas passadas e tudo mais. Ele teve passagens difíceis, sofreu, limpou, peiou! Até que chegou uma hora que Ele, para surpresa Dele mesmo, não passava mais mal. Ele já não procura solução alguma, ele apenas vivia aquele instante. Ele foi acalmando, saindo da crise. Apenas curtindo. Foi assim que Ele realmente meditou. E logo a seguir descobriu o prazer e criou sua segunda grande invenção: o sorriso!
E foi assim que ele passou bilênios, triênios, ERAS completas apenas sorrindo de inúmeras formas. Nunca alguém sorriu tanto quanto Ele.
Foi então que na hora que na hora que ele já tinha esquecido esse papo de Quem sou eu?, na hora que ele já se sentia muito bem sozinho mesmo foi então que Ele - FINALMENTE e ainda de forma inconsciente – fez sua primeira criação.
Foi assim, de súbito, como se viesse do nada. De repente ele - mesmo sem ter inventando a visão - viu alguém perto dele.. Foi quando ele criou esse SER Ele percebeu como é gostoso ter companhia.


Cosgomia: Segunda parte : Eu sou é vários!
Mas logo Ele viu que ele, ainda era muito pouca gente. Além disso, na época Ele ainda não era muito criativo e sua primeira criação era muito a sua imagem e semelhança. Mas já era alguma coisa. Era alguém além Dele. Meio parecido, mas alguém. O chato é que ele passava o tempo todo perguntando: Me responda: quem sou eu? Por mais que Ele explicasse a ele que ele era apenas uma projeção Dele mesmo, ele não acreditava. Desde esse dia, Ele desistiu de falar com suas criações e percebeu que era mais legal apenas observá-las.
Foram os piores bilênios de sua vida. Ele estava cada vez mais entendiado com ele mesmo Era chato para caramba ver a si mesmo ali, sendo um chato que reclama o tempo todo e nunca alcança solução. Nada pior que conviver com gente parecida conosco. Foi assim que Ele, pela primeira vez na vida, pensou – por um bileonesimo de segundo – que essa crise que ele vive a bilênios de anos era meio chata e repetitiva. Mas foi só um instante. A seguir a crise – que ainda o dominava – voltou a dominá-lo.
Até que Ele – quando já estava desistindo de si mesmo - teve sua primeira IDEIA racional! A primeira criação foi apenas intuitiva, mas a segunda foi também racional. Ele decidiu separar Ele mesmo em dois seres. Assim, ao invés de ficar apenas ouvindo um monologo Dele consigo mesmo, ele poderia ouvir – sem participar - um diálogo entre dois seres. Ele chamou a eles de Masculino e Feminino. A idéia, aparentemente simples, era genial. De uma tacada só Ele inventou os números, a matemática, a divisão, o diálogo e o teatro. Em termos de literatura Ele saia do lírico e entrava no modelo dramático.
Ele aprendeu muito com aquele simples diálogo entre dois seres. Pela primeira vez ele percebeu que esse papo de uno era ilusão Dele mesmo. Ele era uno, mas era dois. E que ouvir o diálogo entre duas partes de Si mesmo é uma ótima forma de aprender sobre si mesmo. Até hoje, quando um homem discute com uma mulher, eles estão apenas trabalhando para que Ele entenda melhor suas várias facetas e sua infinita complexidade.
Foi assim que Ele começou a CRIAR todas as coisas.. No inicio, Ele criava para resolver sua crise, mas Ele logo pegou gosto pela coisa e a criação virou um prazer em si mesmo.
No início ele estava numa pira de que Ele era dois, estava numas de Binário. Aí começou a separar tudo em dois. Foi assim que ele decidiu separar a matéria do espírito. Ele adorou, achou perfeito. A matéria era ótima para dar concretude as coisas e também representava muito bem aquela permanente sensação de aprisionamento que Ele sempre sofrera. Já o espírito era Etéreo e permitia que Ele continuasse dando os seus infinitos vôos astrais.
Depois decidiu separar o Tempo do Espaço. Ele também adorou, achou super útil. Antes as coisas ainda aconteciam de forma muito simultânea e eram difíceis de entender a história. Agora as coisas aconteciam uma de cada vez, era ótimo. Foi assim que, após inventar o diálogo, ele inventou a narrativa e a partir daí tudo ficou mais claro e ele podia acompanhar melhor as suas histórias.
Foi assim que surgiu o mundo físico.

Mas logo ele percebeu que esse papo de Binário era uma limitação, que esse papo de Ele era dois era outra noia sua. Ele não era apenas DOIS, ele era muitos.
Aí começou a multiplicar. Foi um período áureo, sua infância criativa. Ele passou bilênios e bilênios numas de artesanato, brincando de massinha e fazendo seres a seu bel prazer. Foram criados mundos e fundos nessa época. Mas o fato é que ele também se cansou.
Logo, Ele começou a perceber que estava se repetindo. Suas criações estava virando obra de autor, começaram a expressar temas recorrentes, repetitivos. Ele via que as possibilidades eram infinitas e sentia que não estava sendo criativo o suficiente para inventar tudo que deveria para poder assistir a todas suas inúmeras facetas.
Foi assim que ele lembrou da Matemática. Ele percebeu que para entender a si mesmo não bastava ser um artesão. Ele gostava de criar, mas tinha que passar a gestão! Foi então que ele criou a matemática, a programação, e a inteligência artificial.
Assim, ao invés de criar cada coisa de forma artesanal, Ele criou o Sistema operacional que rege o mundo, um imenso algoritimo combinatório que faz com que as coisas criem a si mesmo. O Grande Algoritmo, do qual todas as leis da física e da biologia – termodinâmica, newton, relatividade do Einstein, genética - são apenas a parte que um de seus seres - os Homens – podem compreender dentro de sua parca capacidade de abstração.
A partir daí as coisas começaram realmente a acontecer. Ao invés de ficar criando sozinho Ele mesmo começou a assistir ao imenso mistério da Criação.

A partir daí Ele alcançou a felicidade! Ele hoje, é um Homem pleno.
Seu Sistema Operacional o surpreende a cada segundo, criando coisas cada vez mais inusitadas. Quando dá suas raras entrevistas ele lembra do fascínio que teve no instante aonde aquelas simples partículas de matérias se organizaram e fizeram surgir a vida, e suas posteriores e magníficas manifestações. “Coisas que eu mesmo nunca imaginei!”, diz ele com o orgulho do pai que vê o filho entrar na faculdade. Ele também chora sorrindo, sempre que conta de como – para sua grande surpresa o Sistema fez surgir um ser tão maluco como Ele mesmo - que tal como ele sempre passa tempos em crise, apenas pensando – Quem sou eu? – e que tal como Ele – começou a criar coisas para tentar descobrir esse mistério. Para Ele é lindo ver esse SER – tão pequeno, mas tão parecido com ele mesmo - passar a cada vida por tudo que Ele passou e lutar para superar seu problema fazendo criações como Ele mesmo criou. Ele também conta com orgulho de como esse Ser conseguiu Ele mesmo, inventar outras coisas que criam outras coisas: os computadores. Assim, com o Homem a criação (C) virou exponencial e chegou ao C2 (c ao quadrado). E com o computador a criar chega ao C3 (c ao cubo). Se multiplicam cada vez mais as facetas do primeiro Criador!
Pòr tudo isso, Ele hoje é um Homem feliz.
A cada instante O Sistema vai criando uma faceta sua , descobrindo novidades sobre Ele mesmo. Ele pode ficar ali, assistindo isso o tempo todo. É verdade que Ele nem sempre tem tempo de acompanhar tudo isso. Ultimamente Ele tem estado tão calmo que passa horas apenas curtindo a vida em meditação. Pois já faz tempo que Ele parou de tentar entender quem Ele é. Ele já sacou que não existe uma resposta definitiva até porque, Ele mesmo vai mudando o tempo todo. Ele já percebeu que Ele é tão complexo que nem Ele mesmo entenderá.
Ele já sacou que o problema não é esse. Que a única coisa que importa mesmo é ir olhando a criação e criando coisas para entender um pouco mais sobre Si mesmo. Sem se preocupar em chegar a respostas definitivas, e criando apenas pelo prazer de conhecer cada vez mais sobre Si mesmo e as inúmeras facetas da Criação. E do alto de sua calma ele continua torcendo para que cada Homem entenda o que Ele já entendeu e continua criando coisas novas pelo prazer da Criação.