quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Eu, Newton Cannito, confesso: sou crente

Confesso a quem possa interessar: eu, Newton Cannito, sou crente.

Tenho fé.

Fé de que tudo tem sentido, “que deus não joga dados com o mundo”(Einstein) e existe uma ordem divina. Uma ordem que eu não tenho a mínima ideia do que seja.

Reafirmo: eu tenho fé em algo que não tenho a mínima ideia do que seja.

Minha diferença para as doutrinas (religiosas, cientificas , políticas) é que minha fé sobrevive a minha completa confissão de plena ignorância.

A grande maioria do mundo se divide em dois tipos: os que realmente tem dúvidas e vivem em crise. Vivem perdidos, pessimistas, em depressão, reclamando.

E os que tem fé na vida. Vivem mais plenos, são otimistas. Mas conquistam sua fé se apegando a alguma certeza inconteste. Sao as doutrinas.

Mas ter fé com doutrina é fácil. Dificil é ter fé em meio a humildade de admitir que não sabe o que está acontecendo. Essa é a verdadeira fé em deus.

A verdadeira fé não é doutrinaria. A fé doutrinaria é fé nos homens, em algum homem que concebeu a doutrina. A fé em deus é muito mais que isso.

A fé é algo que nos dá confiança e otimismo pois sentimos “que está tudo certo”. A forma mais comum para chegar a isso é se apegar as doutrinas. A doutrina simplifica o mundo , escondendo do “crente” a complexidade da criação divina. A doutrina é uma narrativa (ou um modelo matemático, no caso da ciência) que dá ordem humana ao aparente caos divino. A doutrina é apenas uma ficção bem construída.

Um exemplo de doutrina religiosa: toda a palavra de deus esta na bíblia.

Nada menos humilde do que acreditar que algum grupos de seres humanos redatores (que, alias, eram muito talentosos e inspirados) conseguiram explicar toda a criação divina. Eu sei que eles estavam conectados com deus, ok. Mas eles ainda eram humanos. Eu prefiro acreditar em deus, não em humanos.

Isso não significa que não existe verdade na bíblia. Com certeza existe verdade lá. Mas é apenas uma parte da verdade. Uma parte que serve muito bem a grande parte da humanidade e dá sentido a existência de muitos homens. Maravilhoso. Sou muito grato aos autores desse livro fantástico. Tiveram uma conexão impressionante com a divindade e vem dando até hoje alegria a milhares de vidas. Mesmo assim, como tudo que é humano, ela é apenas uma parte da verdade.

A verdade mesmo é muito mais complexa. Muito mais. E uma verdade não exclui a outra

Em ciência isso fica mais claro. A física newtoniana não esta errada. Ela funciona dentro de determinadas variáveis. Em outras elas não funciona. Ela é parte da verdade. Já a mecânica quântica funciona dentro de outras variáveis. E a teoria da relatividade em outras. Elas não são erradas. Ao contrário, mesmo sendo antagônicas em muitos pontos, todas são verdadeiras. Deus é isso. Ele consegue ser duas coisas ao mesmo tempo. Nós, humanos, é que somos mais burrinhos e temos que limitar a complexidade divina para entender ao menos alguma pequena parte de sua maravilhosa criação.

O mesmo acontece com religião. Ha quem perca tempo provando que uma determinada crença religiosa é “falsa” pois não se aplica a determinada situação. Exemplo: não existiu Adão e Eva. Pois teve evolução. Quando a pessoa pensa que é falso Adão e Eva porque é verdadeira a evolução a pessoa está sendo doutrinaria. Ela esta acreditando que a verdade científica se contrapõem a verdade religiosa. Na verdade mesmo, ambas são verdades. Cada um para determinada variável social. Quem ataca a crença de Adão e Eva com a suposta sabedoria científica esta sendo tão doutrinário quando o religioso que não acredita na evolução por conta de acreditar em Adão e Eva. É como seu um físico quântico perdesse tempo tentando provar que a relatividade é falsa. O difícil é aceitar que ambas são verdades, cada um para uma determinada variável. Isso é aceitar a complexidade da criação divina.

O mesmo acontece com a variedade religiosa. Cada religião tem uma crença diferente, muitas contraditórias. Podemos acreditar que todas são falsas. Mas é prefiro acreditar que todas são parte da verdade. Se essa narrativa religiosa (ou essa equação matemática) tem uso prático na vida de alguém é porque é parte da verdade.

É fácil acreditar num Deus construído como um personagem humano . O difícil é acreditar em deus admitindo que você não tem a mínima ideia do que se trata. Essa é a verdadeira fé.

Se auto-emburrecer para ter fé é muito fácil.

E perigoso.

Toda doutrina é apenas uma parte da verdade, que não exclui as outras. Se você realmente acreditar que uma parte da verdade (que pode ser a sua preferida) exclui todas as outras você corre o risco de virar um fanático. Foi assim que começaram todas as guerras e extermínios. Como eu já disse as doutrinas (sejam matemáticas, sejam as religiosas , sejam as teorias da história, ou sejam as fábulas) são apenas ficções que inventamos para equacionar algumas variáveis do mundo. São super úteis, tem real uso pratico, seja psicológico, seja material (construir casas, por exemplo). Mas são apenas ficções . Parte da verdade organizada pela mente humana. O problema é que essas ficções são super bem construídas (o ser humano é burrinho, mas até que para, nosso nível de inteligência, somos bem inteligentes) e podem parecer a verdade absoluta. Nesse momento você vira fanático.

O objetivo mesmo é ter fé em meio a dúvida. Ter fé sem precisar de doutrina.

Temos que ter fé em meio (e em louvor) ao aparente caos da criação divina.

Temos que ter fé que está tudo certo, mesmo ser ter a mínima ideia do que esta realmente acontecendo. Pois , no fundo, qualquer pessoa que parar para pensar de verdade percebe que não temos a mínima ideia do que REALMENTE esta acontecendo. Porque deus criou o mundo ? Só para testar os humanos? Deus seria tipo o Pedro Bial no Big Brother? (Pode ser verdade para povos do velho testamento, mas me parece pouco para os dias de hoje). Ou falando da criação. Você pode achar que Deus não criou a terra em sete dias como esta no Gênesis. Teve um big bang. Ok, mas e dai? Big bang do que? Algo tinha antes para explodir certo? Quem criou esse algo antes? Porque explodiu? Acho tão absurdo acreditar no Genesis quanto no Big Bang. Odeio quando os cientistas se tornam arrogantes e fanáticos com esse tom de que entenderam tudo só porque descobrirão através de umas fórmulas matemáticas (ficção) que uma pedra grande explodiu bilhões de anos atrás. Acho isso lindo e misterioso, adoro ler sobre isso. Mas isso nao pode nos fazer perder o fascínio pelo mistério da criação. É uma história linda essa da bola que explode. Mas ela não tem começo. Quem criou a bola? Será que essa bola foi criada em sete dias? Resumindo: eu concordo que o Big Bang realmente aconteceu, li os livros de ciência. Mas acho que o Genesis também aconteceu. Pois se existe pessoas que acreditam nele ele passa a acontecer. São ambos parte da verdade, não a verdade absoluta.

Por tudo isso afirmo que a verdadeira fé não é arrogante. Ela não tem explicações para tudo. A verdadeira fé admite sua ignorância. Essa é a única fé que consegue louvar a beleza da infinitamente complexa criação divina. Esse é o verdadeiro pensamento científico. E é o verdadeiro impulso religioso.

E para terminar uma confissão final. Comecei o texto dizendo que sou crente e que tenho fé. Admito que gostaria de ser sempre um homem de fé. Tenho tentado, mas nem sempre consigo. As vezes tenho crises de fé e deixo de ser otimista com a existência. Mas pretendo nunca mais ter esse tipo de crise. E para não ficar chamando a crise vou, a partir de agora, sempre afirmar que tenho fé incondicional e irrestrita, para ir convencendo meu cérebro (e o mundo envolta dele) dessa verdade e tentar , assim, alcançar a verdadeira e infinita fé em tudo. Mesmo no que eu não concordo. Quando eu tiver fé no que eu não concordo, concordarei com tudo e terei fé em toda criação divina. Aí sim, estarei louvando a maravilhosa diversidade divina.

domingo, 13 de novembro de 2011

Sobre magos e loucos

A diferença do mago para o louco é que o mago tem o poder de materializar seus delirios.
Uma forma de curar a loucura é ensinando o louco a materializar seu delirio.
Um mundo criativo é um mundo aonde todos os loucos conseguiram se tornar magos.
Só existe um delírio realmente delirante: acreditar que o delírio alheio é apenas um delírio.